Iª GUERRA MUNDIAL

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Assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando em Saravejo, 1914.

 
1. Antecedentes: razões da guerra
  •  O revanchismo francês: Alsácia-Lorena
  • A rivalidade econômica imperialista: Alemanha e Inglaterra
  • O sistema de alianças: Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Áustria Hungria)  X Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia)
  • Nacionalismo exacerbado:
    • Pan Eslavismo: liderado pela Rússia
    • Pan Germanismo: liderado pela Alemanha
    • Paz Armada: esforço de guerra, tensão permanente
2. Os conflitos do século XX e o início da Guerra 
  • A Questão Marroquina: França (+ Inglaterra) X Alemanha
  • A Questão Balcânica
  • “Estopim da guerra”: O atentado de Sarajevo: morte do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco
  • A invasão da Sérvia pela Áustria

3. As fases da guerra 

  1. A guerra de movimento: ocupação da França pelos alemães (ago-nov de 1914)
  2. A guerra de posição ou guerra de trincheira (nov de 1914 a março de 1918)
  3. A saída da Rússia devido a Revolução Russa em 1917 e a entrada dos Estados Unidos com 1,2 milhões de soldados definiu os rumos da guerra.

4. Fim da Guerra 

  • Em janeiro de 1918 o presidente norte americano Woodrow Wilson propôs um documento chamado “ Os quatorze pontos de Wilson”:
    • “paz sem vencedores nem vencidos”, baseada nos princípios liberais da democracia norte-americana.
    • “Respeito a autodeterminação dos povos, fim da diplomacia secreta, a livre navegação dos mares, a redução dos armamentos e a criação de uma entidade internacional com a função de garantir a paz: A Sociedade (ou Liga) das Nações.”

5. Os Tratados de Paz
    A- O Tratado de Versalhes
  • Cláusulas territoriais – devolução da Alsácia Lorena à França. A Polônia foi declarada Estado Independente(criação do corredor polonês), transferência das colônias alemãs na África à Inglaterra, França e Bélgica e a do Pacífico para o Japão e Inglaterra.
  • Cláusulas militares – a Alemanha seria desarmada e o exército reduzido a 100 mil homens, não teria marinha de guerra, artilharia pesada, tanques ou aviões e não poderia fabricar material militar.
  • Cláusulas financeiras – a Alemanha deveria pagar 132 bilhões de marcos-ouro sendo que a maior quantia seria destinada à França, que receberia 52% do total.
        B- O Tratado de Saint-Germain: desmembramento do Império Austro-Húngaro
        C- Tratado de Sèvres e de Lausanne: o Império Otomano foi liquidado, ficando a maioria da região sob a influencia da França, Grã-Bretanha e da Itália.

6. Pós Guerra

  • Abdicação do Kaiser Guilherme II e em 9 de novembro de 1918, a República foi proclamada em Berlim.
  • No dia 11 o governo alemão assinou o armistício, aceitando todas as condições impostas pelos aliados.

7. Efeitos da Guerra
  • Morte de cerca de 8 milhões de pessoas e deixou 20 milhões de inválidos.
  • 30% da riqueza nacional francesa e 22% da inglesa foi consumida pelo conflito.
  • O potencial industrial da Europa sofreu redução de 40% e o agrícola 30%.
  • A dívida externa cresceu e o déficit da balança de pagamentos causou a desvalorização das moedas europeias em relação ao dólar.

8. Os Estados Unidos e a guerra

  • Os Estados Unidos perderam 115 mil soldados e gastaram 36 bilhões de dólares, cinquenta vezes o orçamento de 1913, porém, sua economia saiu imensamente fortalecida pois seu território foi poupado pelos combates e pôde exportar três vezes mais do que em 1913 e a renda nacional mais que dobrou.
  • O país se tornou a primeira potência mundial.

9. Participação do Brasil 

  • Em abril de 1917, os alemães afundaram no Canal da Mancha o navio mercante brasileiro Paraná: três pessoas morreram. Em represália, o Brasil rompeu relações com os agressores. Em outubro, outro navio brasileiro, o Macau, foi atacado. A indignação tomou conta do país. Em diversas regiões, os alemães e seus negócios foram alvos de agressões; o governo brasileiro decide declarar guerra aos alemães.
  • No fim de 1917, o Brasil enviou à Europa uma equipe médica e soldados para auxiliar a Entente em missões de patrulhamento. A marinha colocou à disposição dos Aliados barcos de guerra, como o Rio Grande do Sul, Bahia, Parayba e o Rio Grande do Norte.
  • Os países não-industrializados também ganharam, seja por fornecer alimentos e matérias-primas, seja pela possibilidade que tiveram de desenvolver sua própria industrial. Foi o caso do Canadá e do Brasil.
 
GUERRA NAS TRINCHEIRAS 
Foi um verdadeiro atoleiro, onde os dois lados rivais no conflito passaram anos imobilizados sem conseguir avançar no território inimigo

Iniciada em 1914 por causa de disputas econômicas e geopolíticas, a Primeira Guerra Mundial opôs as Potências Centrais (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Turquia) contra os Aliados (França, Inglaterra, Rússia e Estados Unidos). Ela durou até 1918, terminando com a vitória dos Aliados, após a morte de mais de 20 milhões de pessoas! Na Frente Ocidental (veja no mapa da página ao lado), as trincheiras se tornaram o centro das operações militares. Por causa delas, a Primeira Guerra viveu anos de impasse, pois nenhum dos lados tinha força suficiente para superar as linhas de defesa escavadas pelo inimigo. “Por mais de dois anos ambos os lados em combate avançaram menos de 15 quilômetros tanto numa como noutra direção”, afirma o historiador americano John Guilmartin Jr., da Universidade de Ohio. Os campos de batalha onde ficavam as trincheiras eram um lamaçal constante e um lugar extremamente perigoso. Estudos indicam que quase 35% de todas as baixas sofridas na Frente Ocidental foram de soldados mortos ou feridos quando estavam numa trincheira! Neste infográfico, você confere como era a vida na trincheira.

1.      Na maior fossa
No dia-a-dia dos soldados, faltava água e comida e  sobravam ratos, lama e doenças.

BURACO APERTADO
Uma trincheira típica tinha pouco mais de 2 m de profundidade e cerca de 1,80 m de largura. À frente e atrás, largas fileiras de sacos de areia, com quase 1 m de altura, aumentavam a proteção. Havia ainda um degrau de tiro, 0,5 m acima do chão. Ele era usado por sentinelas de vigia e na hora de atirar contra o inimigo.
SEM DESCARGA
Os “banheiros” eram latrinas: buracos no chão com 1,5 m de profundidade. Quando estavam quase preenchidas, eram cobertas com terra e escavavam-se novos buracos – trabalho feito em geral por soldados que levavam alguma punição. Quando não dava tempo de chegar até a latrina, o jeito era mandar ver na cratera de bomba mais próxima…

TOCA “VIP”
A linha de frente para o inimigo não era a única trincheira. Havia outras linhas na retaguarda, interligadas por caminhos escavados na terra. Esses caminhos levavam também a abrigos usados como hospitais, postos de comando ou depósitos. Escorados por madeira, eram abrigos subterrâneos e não a céu aberto como as trincheiras.

PÃO E ÁGUA
A maior parte da comida era enlatada. A ração diária do Exército inglês só dava direito a um pedaço de pão, alguns biscoitos, 200 g de legumes e 200 g de carne. Para reabastecer o cantil com água, muitos soldados recorriam a poças deixadas pela chuva… Para aliviar o sofrimento, suprimentos diários de rum, vinho ou conhaque eram oferecidos às tropas.

ANDANDO NA PRANCHA
Boa parte das trincheiras foram feitas em regiões abaixo do nível do mar, onde qualquer buraco fazia jorrar água. A chuva constante piorava a situação, criando uma camada de água enlameada no chão das trincheiras. Para evitar esse barro todo, pranchas de madeira eram colocadas a alguns centímetros do sol.o

FOLGA BEM GOZADA
Nos períodos de calmaria, cada soldado ficava oito dias em trincheiras da linha de frente. Depois, passava quatro dias nas trincheiras da retaguarda, mais tranqüilas. Aí finalmente vinham quatro dias de folga, gozados em acampamentos militares a quilômetros do campo de batalha – muitas vezes com bordéis cheios de prostitutas na vizinhança.

DE SACO CHEIO
Proteção barata e eficiente, os sacos de areia eram capazes de barrar os tiros inimigos. As balas dos fuzis da época só penetravam cerca de 40 cm neles. Eram tão úteis que cada soldado sempre carregava dois sacos vazios, que podia encher rapidamente para se proteger.

VIDA INSANA
O terror da guerra e a quase insuportável vida nas trincheiras enlouquecia muitos soldados. Alguns feriam a si próprios para serem mandados de volta pra casa – fraude que, se descoberta, podia ser punida com fuzilamento! Os mais desesperados saíam da trincheira para ser mortos pelo inimigo.
ATAQUE ANIMAL
Corpos em decomposição, enterrados em covas rasas perto das trincheiras, atraíam ratos, que proliferavam sem controle. Além de transmitir doenças, eles chegavam a roubar comida do bolso dos soldados e a roer o corpo dos feridos! Na total falta de higiene, piolhos disseminavam a febre das trincheiras, doença contraída por mais de 10% dos soldados.

SILÊNCIO PERIGOSO
Na maior parte do tempo não havia ofensivas contra as trincheiras. Era uma guerra de espera, mas ainda assim muito perigosa. Atiradores passavam o dia de olho no vacilo de algum soldado que erguesse a cabeça pra fora do buraco. Especialistas em mineração tentavam fazer túneis até a linha inimiga para explodir as trincheiras por baixo!

ONDE ELAS FICAVAM
Conhecido como Frente Ocidental, o cenário onde as trincheiras ficaram famosas na Primeira Guerra estendia-se por cerca de mil quilômetros, indo do litoral do mar do Norte até a fronteira da Suíça. Por toda essa extensão ficavam, frente a frente, as linhas de trincheiras dos alemães e dos Aliado

2. No calor da batalha!
Nos difíceis ataques às trincheiras inimigas, soldados usavam até lança-chamas

PROFISSÃO PERIGO
Durante as ofensivas, os soldados eram instruídos a não parar para atender colegas atingidos. Cada um levava um kit de  emergência e deveria cuidar de si até a chegada dos padioleiros, que retiravam os feridos em macas. Por causa do fogo cruzado e da lama que atrapalhava o deslocamento, era um trabalho super arriscado

FOI MAL AÍ…
O “fogo amigo” provocou grandes baixas. Na confusão que rolava durante uma ofensiva, os soldados podiam ser atingidos por metralhadoras de suas próprias trincheiras. Calcula-se que, só no Exército britânico, cerca de 75 mil soldados tenham sido mortos pela própria artilharia

TERRITÓRIO SELVAGEM
Para conquistar uma trincheira inimiga era preciso atravessar a terra de ninguém, o espaço entre as duas linhas que se enfrentavam. A distância entre as linhas variava de 100 m a 1 km, num terreno enlameado e cheio de crateras de bombas. No ataque, os soldados corriam em ziguezague para tentar escapar dos tiros.

CAMINHO LIVRE
No caminho até a trincheira inimiga, era preciso driblar rolos de arame farpado com até 2 m de altura – e debaixo de muitos tiros… Para destruir essas barreiras, soldados treinados levavam um bastão de 2 m que tinha explosivos na ponta. Eles introduziam o bastão no meio do arame e detonavam o explosivo, abrindo caminho para a tropa

TOCHA HUMANA
O lança-chamas foi usado pela primeira vez em combate na Primeira Guerra. Dois homens operavam o equipamento, lançando jatos com um alcance de 25 a 40 m. Seus operadores corriam grande perigo: um único tiro no tanque de combustível e eles iam pelos ares!

TRÂNSITO CAÓTICO
As batalhas provocavam um engarrafamento nas trincheiras de comunicação, que interligavam as linhas de frente e da retaguarda. Por elas chegavam tropas de reforço e partiam feridos, além de serem transportadas munições. Na confusão, neste apertado labirinto, vários soldados se perdiam pelo caminho.

TÁTICA VENENOSA
Na Primeira Guerra, mais de 91 mil soldados foram mortos por gases venenosos e outras armas químicas. Esses produtos podiam ser lançados por projéteis da artilharia ou por granadas carregadas pelos soldados. Eram usadas substâncias como o gás de cloro, que provocava asfixia nas vítimas.

BOMBANDO POR TRÁS
Os soldados que avançavam contra a linha inimiga tinham apoio da artilharia. As baterias de canhões ficavam na retaguarda – cerca de 10 km atrás das linhas de frente – e disparavam pouco antes da ofensiva da tropa. Como a comunicação era precária, nem sempre a sincronia era perfeita. Às vezes bombas caíam sobre a própria tropa…

MÁQUINA MORTÍFERA
A mais poderosa arma para barrar os ataques eram as casamatas com metralhadoras. Muito usadas pelos alemães, eram mini fortalezas com paredes espessas e fendas por onde a metralhadora disparava. Produziam tantas baixas que seus ocupantes eram os soldados mais odiados: um metralhador capturado geralmente era executado no ato!

SOLDADO PESO PESADO
O equipamento pessoal e o armamento dos soldados, mais ou menos comum a todos os exércitos, pesava cerca de 30 kg. O peso do equipamento atrapalhava a movimentação e vários exércitos trataram de reduzi-lo no decorrer da guerra.

POR DENTRO DO LANÇA-CHAMAS
1. Um lança-chamas tinha três cilindros: dois com líquido combustível (como óleo diesel) e um com um gás inflamável pressurizado. Quando a arma era acionada, o gás entrava nos cilindros com combustível, forçando-o a sair com grande pressão pelas mangueiras.
2. No corpo da arma, havia um sistema de ignição: em geral, uma resistência elétrica, acionada por bateria. Ela aquecia o líquido combustível até ele pegar fogo e sair do lança-chamas na forma de um jato incendiário


CURIOSIDADES DA 1ª GUERRA

Noite feliz na terra de ninguém:
Natal de 1914
No Natal de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial, soldados ingleses e alemães deixaram as trincheiras e fizeram uma trégua. Durante seis dias, eles enterraram seus mortos, trocaram presentes e jogaram futebol
por Bruno Leuzinger

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Finalmente parou de chover. A noite está clara, com céu limpo, estrelado, como os soldados não viam há muito tempo. Ao contrário da chuva, porém, o frio segue sem dar trégua. Normal nesta época do ano. O que não seria normal em outros anos é o fedor no ar. Cheiro de morte, que invade as narinas e mexe com a cabeça dos vivos – alemães e britânicos, inimigos separados por 80, 100 metros no máximo. Entre eles está a “terra de ninguém”, assim chamada porque não se sobreviveria ali muito tempo. Cadáveres de combatentes de ambos os lados compõem a paisagem com cercas de arame farpado, troncos de árvores calcinadas e crateras abertas pelas explosões de granadas. O barulho delas é ensurdecedor, mas no momento não se ouve nada. Nenhuma explosão, nenhum tiro. Nenhum recruta agonizante gritando por socorro ou chamando pela mãe. Nada.

E de repente o silêncio é quebrado. Das trincheiras alemãs, ouve-se alguém cantando. Os companheiros fazem coro e logo há dezenas, talvez centenas de vozes no escuro. Cantam “Stille Nacht, Heilige Nacht”. Atônitos, os britânicos escutam a melodia sem compreender o que diz a letra. Mas nem precisam: mesmo quem jamais a tivesse escutado descobriria que a música fala de paz. Em inglês, ela é conhecida como “Silent Night”; em português, foi batizada de “Noite Feliz”. Quando a música acaba, o silêncio retorna. Por pouco tempo.

“Good, old Fritz!”, gritam os britânicos. Os “Fritz” respondem com “Merry Christmas, Englishmen!”, seguido de palavras num inglês arrastado: “We not shoot, you not shoot!”(“Nós não atiramos, vocês também não”).

Estamos em algum lugar de Flandres, na Bélgica, em 24 de dezembro de 1914. E esta história faz parte de um dos mais surpreendentes e esquecidos capítulos da Primeira Guerra Mundial: as confraternizações entre soldados inimigos no Natal daquele ano. Ao longo de toda a frente ocidental – que se estendia do mar do Norte aos Alpes suíços, cruzando a França –, soldados cessaram fogo e deixaram por alguns dias as diferenças para trás. A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos generais; ela surgiu ali mesmo nas trincheiras, de forma espontânea. Jamais acontecera algo igual antes. É o que diz o jornalista alemão Michael Jürgs em seu livro Der Kleine Frieden im Grossen Krieg – Westfront 1914: Als Deutsche, Franzosen und Briten Gemeinsam Weihnachten Feierten (“A Pequena Paz na Grande Guerra – Frente Ocidental 1914: Quando Alemães, Franceses e Britânicos Celebraram Juntos o Natal”, inédito no Brasil).

Conhecido então como Grande Guerra (pouca gente imaginava que uma segunda como aquela seria possível), o conflito estourou após a morte do arquiduque Francisco Ferdinando. Herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, ele e sua esposa Sofia foram assassinados em Sarajevo, na Sérvia, no dia 28 de junho. O atentado, cometido por um estudante, fora tramado por um membro do governo sérvio. Um mês mais tarde, em 28 de julho, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia. As nações europeias se dividiram. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram aos sérvios; a Alemanha, aos austro-húngaros. Nas semanas seguintes, os alemães invadiram a Bélgica, que até então se mantivera neutra, e, ainda em agosto, atravessaram a fronteira com a França. Chegaram perto de tomar Paris, mas os franceses os detiveram, em setembro.

Nos primeiros meses, a propaganda militar conseguiu inflar o orgulho dos soldados – de lado a lado. O fervor patriótico crescia paralelamente ao ódio pelos inimigos. Entretanto, em dezembro o moral das tropas já despencara. A guerra se arrastava havia quase um semestre. Os britânicos haviam perdido 160 mil homens até então; Alemanha e França, 300 mil cada. Para piorar, as condições nas trincheiras eram péssimas. O odor beirava o insuportável, devido às latrinas descobertas e aos corpos em decomposição. Estirados pela terra de ninguém, cadáveres atraíam ratazanas aos milhares. Era um verdadeiro banquete. Com tanta carne, elas engordavam tanto que algumas eram confundidas com gatos. Pior que as ratazanas, só os piolhos. Milhões deles, nos cabelos, barbas, uniformes. Em toda parte.

Quando chovia forte, a água batia na altura dos joelhos. Dormia-se em buracos escavados na parede e era comum acordar assustado no meio da noite, por causa das explosões ou de uma ratazana mordiscando seu rosto. Durante o dia, quem levantasse a cabeça sobre o parapeito era um homem morto. Os franco-atiradores estavam sempre à espreita (no final da tarde, praticavam tiro ao alvo no inimigo e, quando acertavam, diziam que era um “beijo de boa-noite”). O soldado entrincheirado passava longos períodos sem ter o que fazer. Horas e horas de tédio sentado no inferno. Só restava esperar e olhar para céu – onde não havia ratazanas nem cadáveres.

O cotidiano de horrores foi minando a vontade de lutar. Uma semana antes do Natal já havia sinais disso. Foi assim em Armentières, na França, perto da fronteira com a Bélgica. Soldados alemães arremessaram um pacote para a trincheira britânica. Cuidadosamente embalado, trazia um bolo de chocolate e dentro, escondido, um bilhete. Os alemães pediam um cessar-fogo naquela noite, entre 19h30 e 20h30. Era aniversário do capitão deles e queriam surpreendê-lo com uma serenata. O bolo era uma demonstração de boa vontade. Os britânicos concordaram e, na hora da festa inimiga, sentaram no parapeito para apreciar a música. Aplaudidos pelos rivais, os alemães anunciaram o encerramento da serenata – e da trégua – com tiros para cima. Em meio à barbárie, esses pequenos gestos de cordialidade significavam muito.

Ainda assim, era difícil imaginar o que estava por vir. Na noite do dia 24, em Fleurbaix, na França, uma visão deixou os britânicos intrigados: iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitavam as trincheiras inimigas. A surpresa aumentou quando um tenente alemão gritou em inglês perfeito: “Senhores, minha vida está em suas mãos. Estou caminhando na direção de vocês. Algum oficial poderia me encontrar no meio do caminho?” Silêncio. Seria uma armadilha? Ele prosseguiu: “Estou sozinho e desarmado. Trinta de seus homens estão mortos perto das nossas trincheiras. Gostaria de providenciar o enterro”. Dezenas de armas estavam apontadas para ele. Mas, antes que disparassem, um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. Após minutos de conversa, combinaram de se reunir no dia seguinte, às 9 horas da manhã.

No dia seguinte, 25 de dezembro, ao longo de toda a frente ocidental, soldados armados apenas com pás escalaram suas trincheiras e encontraram os inimigos no meio da terra de ninguém. Era hora de enterrar os companheiros, mostrar respeito por eles – ainda que a morte ali fosse um acontecimento banal. O capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas. Os corpos foram divididos por nacionalidade, mas a separação acabou aí: na hora de cavar, todos se ajudaram. O capelão abriu a cerimônia recitando o salmo 23. “O senhor é meu pastor, nada me faltará”, disse. Depois, um soldado alemão, ex-seminarista, repetiu tudo em seu idioma. No fim, acompanhado pelos soldados dos dois países, Adams rezou o pai-nosso. Outros enterros semelhantes foram realizados naquele dia, mas o de Fleurbaix foi o maior de todos.

Aquela situação por si só já era inusitada: alemães e britânicos cavando e rezando juntos. Mas o que se viu depois foi um desfile de cenas surreais. Em Wez Macquart, França, um britânico cortava os cabelos de qualquer um – aliado ou inimigo – em troca de alguns cigarros. Em Neuve Chapelle, também na França, os soldados indicavam discretamente para seus novos amigos a localização das minas subterrâneas. Em Pervize, na Bélgica, homens que na véspera tentavam se matar agora trocavam presentes: tabaco, vinho, carne enlatada, sabonete. Uns disputavam corridas de bicicleta, outros caçavam coelhos. Uma luta de boxe entre um escocês e um alemão foi interrompida antes que os dois se matassem. Alguém sugeriu um duelo de pistolas entre um alemão e um inglês, mas a ideia foi rechaçada – afinal, aquilo era um cessar-fogo.

Porém, o melhor estava por vir. Nos dias 25 e 26, foram organizadas animadas partidas de futebol. Centenas jogaram bola nos campos de batalha. “Bola” em muitos casos era força de expressão; podia ser apenas um monte de palha amarrado com arame, ou uma lata de conserva vazia. E, no lugar de traves, capacetes, tocos de madeira ou o que estivesse à mão. Foi assim em Wulvergem, na Bélgica, onde o jogo foi só pelo prazer da brincadeira, ninguém prestou atenção no resultado. Mas houve também partidas “sérias”, com direito a juiz e a troca de campo depois do intervalo. Numa delas, que se tornou lendária, os alemães derrotaram os britânicos por 3 a 2. A vitória suada foi cercada de polêmica: o terceiro gol alemão teria sido marcado em posição irregular (o atacante estava impedido) e a partida, encerrada depois que a bola – esta de verdade, feita de couro – furou ao cair no arame farpado.

A maioria das confraternizações se deu nos 50 quilômetros entre Diksmuide (Bélgica) e Neuve Chapelle. Os soldados britânicos e alemães descobriam ter mais em comum entre si que com seus superiores – instalados confortavelmente bem longe da frente de batalha. O medo da morte e a saudade de casa eram compartilhados por todos. Já franceses e belgas eram menos afeitos a tomar parte no clima festivo. Seus países haviam sido invadidos (no caso da Bélgica, 90 por cento de seu território estava ocupado), para eles era mais difícil apertar a mão do inimigo. Em Wijtschate, na Bélgica, uma pessoa em particular também ficou muito irritada com a situação. Lutando ao lado dos alemães, o jovem cabo austríaco Adolf Hitler queixava-se do fato de seus companheiros cantarem com os britânicos, em vez de atirarem neles.

Naquele tempo, Hitler ainda não apitava nada. Entretanto, os homens que davam as cartas também não estavam nem um pouco felizes. Dos quartéis-generais, os senhores da guerra mandaram ordens contra qualquer tipo de confraternização. Quem desrespeitasse se arriscava a ir à corte marcial. A ameaça fez os soldados voltarem para as trincheiras. Durante os dias seguintes, muitos ainda se recusavam a matar os adversários. Para manter as aparências, continuavam atirando, mas sempre longe do alvo. Na noite do dia 31, em La Boutillerie, na França, o fuzileiro britânico W.A. Quinton e mais dois homens transportavam sua metralhadora para um novo local, quando de repente ouviram disparos da trincheira alemã. Os três se jogaram no chão, até perceberem que os tiros eram para o alto: os alemães comemoravam a virada do ano.

A trégua velada resistiu ainda por um tempo. Até março de 1915, alemães e britânicos entrincheirados em Festubert, na França, faziam de conta que a guerra não existia – ficava cada um na sua. Mas a lembrança das confraternizações foi aos poucos cedendo espaço para o ódio. A carnificina recrudesceu, prosseguindo até a rendição da Alemanha, em novembro de 1918, arrasando a Europa e deixando cerca de 10 milhões de mortos. Talvez a matança até valesse a pena, se a profecia do escritor de ficção científica H.G. Wells tivesse dado certo. O autor de A Máquina do Tempo escrevera em um ensaio que aquela seria “a guerra que acabaria com todas as guerras”. Wells, é claro, estava enganado. Os momentos de paz, como os do Natal de 1914, seriam escassos também ao longo de todo o século 20. A Grande Guerra tinha sido só o começo.
Saiba mais
LIVRO:
De Kleine Frieden im Grossen Krieg, de Michael Jürgs, Ed. Bertelsmann, 2003 351 páginas, 23 euros
 
FONTES:

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HISTÓRIA NO CINEMA
 
 




O best-seller "Cavalo de Guerra" (WMF Martins Fontes, 2011), do escritor, poeta e dramaturgo inglês Michael Morpurgo, narra a emocionante história de um jovem que se separa de seu cavalo quando o equino é vendido para os militares e mandado para as trincheiras na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

O filme homônimo mostra a história de amizade entre um cavalo chamado Joey e o jovem Albert (Jeremy Irvine), que o domestica e o treina, na Inglaterra. Quando Joey é vendido à cavalaria e mandado para o combate durante a Primeira Guerra Mundial, eles são forçados a se separar e Albert inicia sua jornada em busca do amigo, na França, inspirando a vida de todos que encontra em seu caminho. 







Outra dica de filme sobre a Primeira Grande Guerra é:

Feliz Natal
 

No ano que comemorou o centenário do início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), como passou a ser definida pela historiografia, ou a Grande Guerra, como foi apelidada na linguagem popular, devido ao cenário de devastação e morte que trouxe consigo e ao abismo de desespero e desatino provocado por um conflito que penetrava como uma faca no coração da civilização europeia, a da Belle Epoque, que se acreditava finalmente isenta de violência e ódios nacionais. Um conflito, com efeito, que mobilizou milhões de pessoas, tanto moradores de cidades quanto simples camponeses, de França, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Rússia, mas também Itália e estados balcânicos, entre outros. E que se caracterizou, desde seu começo, como uma longa, extenuante e alucinante guerra de posição, tendo as trincheiras como cenário principal.

É disso, deste fundamental e universal sentimento de humanidade e de seu componente religioso, o reconhecimento de valores que ultrapassam qualquer divisão e inimizade, que trata o filme Feliz Natal (2005), produzido por vários países europeus e dirigido pelo francês Christian Carion. A inspiração do longa lhe vem de fatos realmente ocorridos no front ocidental, em ocasião do Natal de 1914, o primeiro Natal de guerra. Na véspera e ao longo do dia 25 de dezembro daquele ano, com efeito, soldados de ambas as partes em luta saíram das opostas trincheiras do front ocidental, entre França e Alemanha, em vários pontos de seu traçado, para confraternizar. Trocas de pequenos objetos, cigarros e chocolate, conversas e celebrações religiosas, cantos natalinos e até partidas de futebol disputadas na terra de ninguém, como é chamado o espaço entre as trincheiras inimigas, caracterizaram aquela que recebeu o nome de trégua de Natal. Simples soldados e oficiais participaram dos eventos, que não foram programados mas que se produziram espontaneamente em vários pontos da linha de fogo, apesar de não ter recebido aprovação sucessiva pelos altos comandos militares.
Vale a pena conferir!!



Monumento aos animais

usados na guerra
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Durante a guerra os exércitos fizeram extensivo uso de pombos correios para o envio de mensagens, pois as comunicações naquela época se encontravam em seus primórdios. Estas aves faziam um trabalho importante, e também perigoso. Ao ver um pombo ser lançado os soldados inimigos abriam fogo contra ele imediatamente para evitar que a mensagem chegasse ao seu destino. Alguns pombos eram levadas dentro de tanques para serem despachados de volta as suas linhas com as informações do reconhecimento feito pelos mesmos. Os Alemães utilizaram a Brieftauben fotografie, que era uma invenção de Julius Neubronner, que consistia em uma pequena máquina fotográfica acoplada nos pombos para que tirassem fotos áreas do campo de batalha.

Foi inaugurado no centro de Londres “um monumento nacional aos animais que serviram, sofreram e morreram ao lado das Forças Aliadas e Britânicas em guerras ao longo dos séculos”, diz o jornal The Times.Trata-se duma escultura de bronze representando um cavalo, um cão e duas mulas com carga, cercada por um muro de pedra com representações de outros animais que serviram em várias guerras. Por exemplo, na Primeira Guerra Mundial estima-se que uns 8 milhões de cavalos tenham morrido, assim como incontáveis mulas e burros. O jornal The Guardian conta que os soldados usavam vaga-lumes, ou pirilampos, na Primeira Guerra Mundial para ler mapas à noite. Um animal notável chamado Rob, o “cão pára-quedista”, fez mais de 20 saltos de pára-quedas no Norte da África e na Itália. Além disso, durante a Primeira Guerra Mundial, um pombo chamado Cher Ami, “entregou nada mais nada menos do que 12 mensagens e nunca falhou”, diz o jornal. Mas, segundo uma fonte, uns 20 mil pombos morreram em serviço naquela guerra.


 
CHURCHILL, O PRIMEIRO MINISTRO BRITÂNICO  QUE SALVOU MILHARES DE CAVALOS APÓS A 1ª GUERRA MUNDIAL
 
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